As novas pragas da agricultura

Nem mesmo as inovações tecnológicas mais avançadas afastam o perigo das pragas. Cabe a vocês se defenderem.

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Pragas e calamidades podem vir a comprometer a produção agrícola brasileira nos próximos anos. Muitas já acontecem, são conhecidas, umas combatidas, outras não. Tantas já irreversíveis, como o relaxa e goza vindo da fúria concentradora entre as principais fabricantes de insumos agrícolas.

Sugerem-me comentar o assunto. Faço-o há mais de vinte anos, quando o processo se iniciou com a privatização da produção de matérias-primas e fertilizantes intermediários, no Brasil.

O mesmo acontece agora, em nível planetário, com sementes, agrotóxicos e fertilizantes, em negócios de aquisição e fusão. A Bayer, da Alemanha, compra a norte-americana Monsanto (US$ 66 bilhões).

As canadenses Agrium e Potash Corp (US$ 27 bilhões) se fundem, como recentemente fizeram as agroquímicas Dow e DuPont. A ChemChina adquiriu a suíça Syngenta. São movimentos significativos do atual estágio do capitalismo, como abordado em colunas recentes.

 

Embora, fundamentalmente, negócios de produção e mercado, nessa dimensão, eles se tornam sobretudo financeiros, o que diminui qualquer poder de barganha dos consumidores finais, enfim, da agricultura.

Como disse, há pouco a analisar e muito a temer (desculpem a má palavra), nos restando apenas assistir.

Há pragas novas, porém, que nem mesmo as inovações tecnológicas mais avançadas afastam o perigo. Cabe a vocês se defenderem. Tentarei ajudá-los.

Em momentos assim da História, recomenda-se analisar o passado e saber como a humanidade nele se comportou. Para alertar caboclos, campesinos, colonos, sertanejos e ruralistas, fui buscar na Bíblia os venenos e antídotos para evitarmos esses incômodos.

Pelas narrativas do livro Êxodo 12-12, o Deus de Israel, primeiro numa boa e depois fazendo uso de 10 pragas, tentou convencer o Faraó do Egito a libertar os hebreus lá escravizados, deixando-os caminharem pelo deserto até Canaã.

O Faraó e suas manhas, que hoje influenciam fortemente o Congresso Nacional, aceitava, prometia, jurava de pés juntos, mas não libertava os hebreus.

Diante de cada paulada de Moisés e seu irmão Arão, emissários a mando do Deus de Israel, o egípcio deixava sofrer seu povo e, logo que a praga passava, seguia a descumprir o prometido.

Foram assim 10 traulitadas. Teve águas de rios transformadas em sangue matando os peixes, rãs por toda a terra, piolhos, moscas, mortes de animais, pústulas cobrindo os corpos de homens e animais, granizo e gafanhotos destruindo plantações, três dias de escuridão. Nada convencia o Faraó.

O povo egípcio, temeroso de que a 10ª praga fosse ainda mais terrível, se manifestava em todos os cantos “Fora Faraó”. Teimoso, ele preferia pagar para ver e continuar traindo.

Veio a 10ª: Moisés e Arão foram incumbidos de jogar sobre o Egito a morte de todos os primogênitos de homens e animais. A praga incluiu o filho do Faraó, que só então concedeu liberdade aos hebreus.

Há muita similaridade entre as dez pragas sobre o Egito e aquelas que os agricultores brasileiros vêm enfrentando, desde que deixou para trás os ciclos monocultores. Estes, também pragas. Vamos às novas pragas:

1. Somente advogados e contadores locais são capazes de entender a legislação rural e não o deixar se enrascar ou travar suas atividades agrícolas.

Mesmo que você seja um daqueles fazendeiros que mora longe da propriedade, principalmente em grandes capitais, nunca deixe esse serviço para um profissional de sua cidade, mesmo que trabalhe em seu grupo de empresas e conheça sua declaração de imposto de renda.

Por comodidade, ele dirá sempre não, ameaçando-o com multas e até prisão. Fale com o profissional da região. Ele saberá indicar o caminho das pedras, cobrará mais barato, e ainda fará você ganhar na operação e na receita;

2. A mesma tática deve ser usada em relação aos bancos que escolher para trabalhar e os gerentes que saberão informar-lhe dos vários produtos orientados para o setor rural, que farão sangrar menos os seus bolsos;

3. Não acredite na maioria dos tais Representantes Técnicos de Vendas (RTV), eles o visitam para cumprir suas metas e indicam-lhe dosagens muito mais altas do que as necessárias. São assim treinados pelos fabricantes, cooperativas e estabelecimentos comerciais;

4. Não compareça a palestras, simpósios, workshops. Neles, você sempre correrá o risco de ser agredido por uma apresentação em PowerPoint. Prefira dias de campo, se tiver chimarrão, cerveja, cachaça, churrasco, galinhada ou buchada de bode. Caso não, cumprimente o dono da área e saia de fininho. Se confiável, converse com ele em particular. Os produtos que usou foram doados;

5. Escolha apenas uma revista especializada sobre o setor agrícola para ler. As demais serão repetições. O mesmo com os canais rurais e seus leilões de bovinos e equinos. Prefira a diversificação no Animal Planet;

6. Quando o institucional da TV Globo aparecer dizendo que agro é pop, não acredite. Em seguida, eles dirão que algum produto plantado pelo pop é o vilão da inflação;

7. Dentre os colunistas sobre agronegócios, nas folhas e telas cotidianas, não deixe de ler a de Ronaldo Caiado, na Folha de São Paulo. Diversão garantida;

8. Grande praga é o pessimista de profissão, consultor financeiro, que irá sugerir você vender a propriedade, pois aconteça o que acontecer, nunca a sua produção renderá tanto como as aplicações financeiras que ele irá oferecer-lhe;

9. A família, enquanto você estiver vivo, será sempre um prazer quando visitar a fazenda. Se mais do que um herdeiro, deixe a reforma agrária definida bem antes de sua morte. Não será agradável saber, que os movimentos sociais sem-terra, que tanto lhe incomodaram em vida, existem no seio de sua família;

10. Se você preferir não seguir esses preceitos, lembre-se do que aconteceu com o Faraó do Egito.

Fonte: Carta Capital

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